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Quatro famílias e a causa animal

  • Foto do escritor: Victoria Mancino
    Victoria Mancino
  • 5 de dez. de 2017
  • 3 min de leitura

Atualizado: 31 de mai. de 2019

A vida de quem se dedica a outras vidas


Em parceria com Eliza Ranieri e Fernanda Andrade


Ser voluntário é utilizar seu tempo para fazer o bem a alguém. A solidariedade motiva projetos como o Focinhos de Luz, Ajuda Animal Ilha e Pet Sem Dono, onde pessoas se empenham no cuidado de animais maltratados e abandonados.


A família de Pamela no quintal de casas, na Ilha do Governador. / Foto: Eliza Ranieri

Um terreno em Santa Cruz estimulou o sentimento solidário da roteirista Vivian Perl, de 68 anos, e mais oito pessoas. Em 2010, o local abrigava 450 animais doentes, era sujo e com cheiro forte. Motivados a salvá-los, o grupo fez um empréstimo de R$40 mil, comprou um terreno em Sepetiba e criou o projeto Focinhos de Luz, que realiza feiras de adoção, aos sábados, no Recreio Shopping.


Sete anos depois, eles ainda pagam R$150 por mês e a dívida deverá ser quitada em 2020. A roteirista Tatiana Perl, de 32 anos, fortaleceu o laço com sua mãe ao aderir à causa e entrar na diretoria do projeto. Desde então, o maior problema enfrentado é o financeiro: o sustento vem de doações de R$30 a R$300 mensais e de produtos da Focinhos vendidos nas feiras.


A solidariedade também motiva a veterinária Nathaly Paiva, de 37 anos, que oferece ao projeto descontos nos procedimentos, como 80% na castração. “Faço isso para que seja possível cuidar de mais animais”, conta. Mesmo assim, o gasto do Focinhos é de R$30 mil por mês, incluindo R$200 com o resgate de cada bicho saudável.

A cadela Docinho no quintal da família Von Zak. / Foto: Eliza Ranieri

O mesmo motivo que une Vivian e Tatiana fez com que a professora Adriana Mendes, de 42 anos, e sua filha Luiza Mendes, de 10 anos, aderissem à causa. O afeto por animais motivou a entrada das duas no Focinhos, onde Luiza resgatou e adotou o gato Pardo. Dentro do projeto, ela divulga as feiras pela internet e sua mãe cuida dos documentos de adoção. Antes, Adriana transportava os animais da sede até as feiras e gastava cerca de R$90 por mês com gasolina, mas, por dificuldades financeiras, trocou sua função e hoje faz a avaliação dos adotantes. “Muita gente pega no impulso e depois desiste”, afirma.


O abandono é reflexo do individualismo que afastou o homem da natureza, segundo a psicóloga Raisa Giumelli. As consequências são visíveis: no Rio de Janeiro, houve 1.656 denúncias de maus tratos a cães e gatos feitas ao Disque Denúncia da Secretaria do Estado do Meio Ambiente, em 2016.


Para a psicóloga, o laço entre humanos e animais auxilia na criação de filhos, pois os pais são referência no desenvolvimento da personalidade humana. “Conviver com bichos na infância desenvolve o lado afetivo e solidário. Elas compreendem melhor o ciclo de vida e morte, já que animais vivem menos que humanos”, diz.


A gata Marie Laurie, resgatada e adotada pela família Von Zak. / Foto: Victoria Mancino

Essa situação foi vivida pela professora Pamela Von Zak, de 27 anos. Quando seu cão morreu, sua filha Anna Carolina, de 6 anos, lidou bem com a perda. A professora, então, prometeu não deixar mais animais sofrerem e entrou no Ajuda Animal Ilha, junto com sua irmã, a assistente social Paloma Von Zak, de 24 anos.


Moradores da Ilha do Governador, os Von Zak disponibilizam lar temporário, pois o projeto não possui sede. O marido de Pamela, André do Nascimento, de 31 anos, também ajuda as irmãs. Para arcar com os custos de cada resgate, que varia de R$200 a R$500, eles dependem de doações. Mesmo assim, tornaram o lar fixo para a cadela Docinho e para a gata Marie Laurie, adotadas pela família. “Não posso salvar 500 vidas, mas salvar aquela ali já faz diferença”, conta a professora.


Dispor da própria casa para a recuperação dos animais também é rotina para a advogada Ana Paula Capilla, de 47 anos, e para a estudante Raquel Capilla, de 18. Juntas, criaram o Pet Sem Dono, em 2015. Elas abrigam uma média mensal de 20 bichos e chegam a gastar R$1,5 mil. Na residência de 58m² na Freguesia, os jornais são trocados quatro vezes ao dia, o chão é limpo com desinfetante e a cozinha com álcool. Assim, não tiveram problemas com a vizinhança até hoje.

As janelas do apartamento de Ana Paula e Raquel são teladas para a proteção dos gatos. / Foto: Victoria Mancino

No pequeno apartamento, os animais ficam em cima dos móveis e prejudicam a circulação de pessoas. Potes de ração e arranhadores compõem o lugar. Os 32 quadros da sala foram presos com fita, pois os gatos os derrubavam dos pregos. As imagens de santos da cômoda foram coladas, porque os animais quebraram. Para se dedicar inteiramente a eles, Ana deixou sua profissão e hoje os gatos são sua prioridade.


Mesmo que o cenário de abandono de animais seja grave, tentar mudá-lo é o primeiro passo para que o número de bichos maltratados diminua. Por isso, essas famílias usam seu tempo e dinheiro em razão do amor sentido pelos animais.

 
 
 

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